quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

Jornal o Povo Famalicense
Posto isto, os autores do relatório da avaliação, e não a OCDE, chegaram facilmente à conclusão de que a Educação em Portugal está, como a Alice, no País das Maravilhas! E o nosso Primeiro- Ministro, adivinha-se, até terá exclamado “porreiro, pá!” Mas eu que detesto que me tomem por lorpa. Eu que detesto que me enganem descaradamente. Digo, vão todos pentear macacos!

Estou na linha de VascoPulido Valente. Como ele também detesto. Como ele também eu “tenho uma aversão a “escândalos” sejam de que espécie forem e uma incapacidade nata para os perceber”. Não me dou à pachorra de perder tempo com eles. Falta-me paciência. E não tenho sequer curiosidade.Desligo.Prefiro casos concretos.Factos objectivos. À margem dos circuitos da especulação.Da intriga. Da maledicência.No contexto deste alinhamento direccionei a minha atenção para as conclusões extraídas do estudo sobre as políticas educativas do Governo do Partido Socialista. Conclusões vitoriosas e orgulhosamente apresentadas pelo primeiro-ministro José Sócrates na semana passada. E anunciadas, inicialmente, tendo como fonte um trabalho desenvolvido pela OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económicos), um fórum intergovernamental de discussão e promoção de políticas que visam o bem estar das populações; que, no dizer dos nossos governantes, não poupou encómios e louvores à acção desenvolvida pelo Ministério da Educação, quanto a POLÍTICAS DE VALORIZAÇÃO DO PRIMEIROCICLO DO ENSINO BÁSICO EM PORTUGAL. Desencadeada a polémica com denúncias feitas de que o Relatório não era da autoria da OCDE, interessei-me mais em particular pelo assunto. E resolvi tirar a limpo. Fui espreitar o Relatório e fiquei informada. O Relatório foi efectuado a partir de um estudo encomendado pelo Ministério da Educação a quatro peritos estrangeiros e um nacional. Este com funções ligadas ao Ministério da Educação, à avaliação dos professores. Foi editado pelo Gabinete de Estatística e Planeamento da Educação (GEPE), com execução gráfica da Editorial do Ministério da Educação e uma tiragem de 500 exemplares. O ENQUADRAMENTO do estudo esclarece que “A avaliação teve na base um relatório abrangente preparado pelo Ministério da Educação com a descrição da implementação de cada uma das medidas, fornecendo uma avaliação interna das mudanças efectuadas, e incluindo muita informação e dados. O relatório foi estudado antes de uma visita de seis dias a Portugal de uma equipa internacional para entrevistar os principais actores educativos e visitar um pequeno número de escolas.” Aquilo que esperávamos fosse uma avaliação externa, conduzida por reputadas personalidades internacionais, independentes, consistiu em conclusões extrapoladas, a partir de dados e elementos fornecidos pelo Ministério da Educação, através do GEPE. O trabalho de campo dos especialistas internacionais assentou numa visita relâmpago a Portugal. Tempo insuficiente para observar um conjunto de realidades escolares. Apreciar a sua singularidade e heterogeneidade. Em seis dias contactaram e entrevistaram os directores e os directores-adjuntos das cinco Direcções Regionais da Educação. Todos de confiança política do Governo, como é óbvio. Contactaram e entrevistaram autarcas dos municípios de Guimarães, Santo Tirso, Gondomar, Amadora, Ourique, Lisboa e P o r t i m ã o . O u v i r a m o C o n s e l h o N a c i o n a l de Educação. O Conselho de Escolas. Associações Sindicais e Profissionais. A Confederação das Associações de Pais (CONFAP). E visitaram um “pequeno número de escolas”, quando deveriam ter sido as escolas o objecto central da avaliação. Parafraseando uma amiga minha: “é obra!”. Posto isto, os autores do relatório da avaliação, e não a OCDE, chegaram facilmente à conclusão de que a Educação em Portugal está, como a Alice, no País das Maravilhas! E o nosso Primeiro- Ministro, adivinha-se, até terá exclamado “porreiro, pá!” Mas eu que detesto que me tomem por lorpa. Eu que detesto que me enganem descaradamente. Digo, vão todos pentear macacos!
6 De 3 a 9 de Fevereiro de 2009
PROFESSORA
EDNA CARDOSO

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